nota: B+

CRÍTICA: ★½  PÚBLICO:
  • Título Original: Downton Abbey
  • Criação: Julian Fellowes
  • Direção: Brian Percival
  • Roteiro: Julian Fellowes (7 episódios), Shelagh Stephenson (1 episódio) e Tina Pepler (1 episódio).
  • Produção: Liz Trubridge, Nigel Marchant, Chris Croucher e Rupert Ryle-Hodges
  • Elenco: Hugh Bonneville, Laura Carmichael, Jim Carter, Brendan Coyle, Michelle Dockery, Joanne Froggatt, Robert James-Collier, Phyllis Logan, Elizabeth McGovern, Sophie McShera, Lesley Nicol, Dan Stevens, Maggie Smith, Jessica Brown Findlay, Siobhan Finneran, etc.
  • Gênero: Drama
  • Duração: 2 episódios de 1h5min (65min) e 5 episódios de 47min. (365min ou 6h5min)
  • Classificação: 10 (BRA), PG (BBFC)

EPISÓDIOS

S01E01 (P:)

S01E02 (P:)

★ Pior

S01E03 (P:)

S01E04 (P:Pior)

S01E05 (P:)

S01E06 (P:★Top2)

★Top2

S01E07 (P:★Melhor)

★Melhor

(Crítica sem spoilers, por ser a primeira temporada)

Residentes em uma mansão cujo nome dá título a série, a família do Conde de Grantham (Bonneville) e seus empregados são o principal foco de Downton Abbey (2010-2015). A série retrata a vida desse coletivo de personagens, com seus respectivos conflitos, nesse cenário aristocrático do começo do século XX no Reino Unido.

Tendo em vista esta premissa, não é difícil perceber como o seriado é muito mais focado em personagens e nas suas interações do que, por exemplo, em uma história mais abrangente. O que não é o mesmo que dizer que não há uma história, mas sim que o foco está nas personagens e como elas reagem às diferentes tramas que vão sendo construídas. Nesse aspecto há muito a se elogiar. As personagens são, em grande parte, muito bem desenvolvidas e elaboradas, sempre despertando interesse no espectador, principalmente no que se refere às interações entre elas. Em um programa mais character-based como este, isso é essencial.

Algo que ajuda a dar ainda mais personalidade às personagens são as atuações. Contando com um elenco de atores excepcionais — como Hugh Boneville, Maggie Smith, Jim Carter e Michelle Dockery, entre outros — que apresentam ótimas performances, “Downton Abbey” se beneficia dessas interpretações para tornar cada um dos papéis mais reconhecíveis e únicos, numa pilha gigantesca de personagens que poderia, facilmente, se tornar confusa e difícil de se distinguir.

Um dos temas mais interessantes e recorrentes no decorrer dos episódios é o de conflito de gerações. Com a história se sucedendo durante o início do século XX, as personagens se vêm obrigadas a lidar tanto com novas tecnologias, como a eletricidade e o telefone, quanto com visões de mundo mais modernas — vindas, principalmente, das personagens mais novas. O confronto tradição contra modernidade vem a tona com bastante frequência, provocando impacto nas relações de uma família naturalmente conservadora. Desta forma, se aproveita mais uma maneira de expressar e desenvolver as personagens que, de diferentes modos, reagem e interagem nesse cenário conflituoso.

Outra consequência da ambientação histórica é o excelente design de produção (Donal Woods) e figurino (Susannah Buxton). Isso é uma característica bastante comum para produções de época em geral, porém, se tratando de uma produção televisiva, é bastante impressionante de qualquer forma. E mesmo que Downton que não seja um lugar real, para as tomadas externas, establishing shots e algumas tomadas internas foi utilizado uma casa senhorial de verdade, o Castelo de Highclere, na Inglaterra; demonstrando uma respeitável busca por realismo.

Outro exemplo de certa dedicação ao realismo é a inclusão de acontecimentos históricos na trama em alguns momentos da temporada. No primeiro episódio, por exemplo, o naufrágio do Titanic (1912) é o que dá início a história do episódio (e o que conduz a um dos principais enredos da temporada e da série como um todo).

No navio estavam dois possíveis herdeiros a uma fortuna e à propriedade de Downton: James Crawley e Patrick. Com seus dois herdeiros mais próximos agora mortos, Robert e Cora Crawley (McGovern), Conde e Condessa de Grantham, passam a se preocupar em achar alguém que conheçam, e saibam que possam confiar, para casar com sua filha mais velha, Lady Mary (Dockery), e no futuro herdar os seus bens. Enquanto isso, somos introduzidos ao resto das personagens, como as outras duas irmãs, Lady Edith (Carmichael) e Lady Sybil (Findlay), a avó Lady Violet (Smith), e aos empregados, Sr. Carson (Carter), Sra. Hughes (Logan), O’Brian (Finneran), Thomas (James-Collier), Anna (Frogatt), entre outras.

Uma personagem introduzida nessa premiere (não só para a audiência, também para grande parte dos personagens) é John Bates (Coyle). Contratado como valet, no início ele é menosprezado pelo resto dos criados por ser manco e usar uma bengala. Amigo pessoal do senhorio, Bates é uma das melhores personagens da série e com certeza uma das mais simpáticas e compreensíveis. Além disso, sua história é um pouco cercada de mistério, o que só o torna mais interessante.

Quanto aos diálogos, diria que o roteiro é muito bom, e as atuações e o foco em personagens só ajudam. Quanto, porém, a estrutura e história, existem certas estranhezas. Em alguns episódios acontecem reviravoltas repentinas na história sem aparente razão ou desenvolvimento, chegando às vezes a parecer mais soluções Deus Ex Machina do que propriamente acontecimentos justificáveis (mesmo que estes também existam dentro da temporada).

O que incomoda também é que, dentro de uma conjuntura que já julguei realista, existem certas situações um tanto cartunescas que acabam por retirar um pouco essa realidade, se contrastando do resto. Além das já citadas reviravoltas (que nem sempre são desse jeito), existem duas personagens que são claramente construídas como vilões. Eles até têm seus motivos e seus momentos de humanidade, mas em várias circunstâncias parecem um pouco maus demais sem um motivo compreensível.

Algo que pareceu um problema maior no começo da temporada, mas que do meio pro final deixou de ser algo expressivo é que, pelo menos no começo, as histórias dos empregados pareciam ser muito mais interessantes do que o que acontecia com os senhorios. Porém, a partir de um ponto, as histórias da família passaram a ser cada vez mais envolventes e aquelas incluindo os criados se tornaram ainda mais interligadas com as dos Crawleys, resultando em episódios melhores em sua integridade.

Hierarquias estão presentes em várias das relações da série: entre os patrões e trabalhadores, entre os próprios aristocratas, os empregados entre si, entre homens e mulheres, etc. O seriado (pelo menos nessa temporada) não faz algo que se poderia chamar de “crítica”, explicitamente pelo menos, a esses tipos de relação social. No entanto, alguns pequenos enredos e relações (que seriam mais explorados em temporadas posteriores) expõe algumas desigualdades, incluindo aquelas que se encaixam na já citada percepção de tradição x modernidade.

Contando com um grande elenco, bons diálogos, personagens memoráveis e uma produção impressionante, a primeira temporada de “Downton Abbey” é uma boa introdução à série. É mais consistente na qualidade de seus episódios do que nas reviravoltas da história, mas consegue prender o espectador e ser, em geral, uma temporada muito bem executada.

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